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[Resenha/Filme] A Pele que Habito

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Nome original: La piel que habito

Ano: 2011

Diretor: Pedro Almodóvar

Tempo de filme: 120 min.

Como falar de um filme tão diferente do normal? Um filme que começa tão inocente e até mesmo bobo e logo se torna uma experiência surreal, carregada e densa?

A Pele que Habito, do diretor Pedro Almodóvar, foge totalmente do padrão de filmes que estou acostumado a assistir. Mais uma vez foi recomendação da minha namorada. Eu esperava um drama, algo um pouco pesado, mas não tão pesado. Algo para refletir, mas não algo para amargar.

O filme tem uma premissa até simples: um cirurgião plástico, Roberto (Antonio Banderas), e sua obsessão em criar uma pele tão perfeita que fosse resistente a tudo, até mesmo a queimaduras. E esse tecido é posto a teste em uma mulher chamada Vera (Elena Anaya – que dá um show de atuação também). Essa obsessão pela pele obviamente leva Roberto a também ser obcecado por seu objeto de teste.

Bom, acho que aí já deu pra perceber um quê de Frankenstein, né? Literalmente, o filme soa bastante como o clássico com uma roupagem moderna, onde o doutor Roberto desafia todas as regras de conduta para poder testar sua pele geneticamente modificada.

De início, fui levado a crer que  filme ficaria girando na jornada de Roberto na criação do tecido de Vera. Mas não, é aí que o filme começa a ter uma reviravolta gigantesca e o filme é uma jornada incessante de sentimentos mistos causados no espectador. Veja bem, não sou acostumado com cinema europeu nem nada, mas pelo que um amigo meu disse, cinema espanhol é quase sempre dessa forma: denso, pesado, carregado.

Se você quer um filme leve, não vá assistir A Pele que Habito. Depois de 1/4 do filme, logo o filme começa a martelar o espectador. Coisas surpreendentes acontecem e aí começa o mistério principal: afinal, quem é Vera? Então, conforme o filme vai se adiantando, somos brindados com o horror da criação do doutor Roberto e vemos que sua obsessão não é necessariamente com a pele perfeita.

O doutor é o perfeito reflexo do médico louco. Atormentado por muitos fantasmas do passado e envolvido por sua pesquisa (também motivada por um desses fantasmas), Banderas encarna um papel muito difícil, ambíguo, sádico, insano. E o papel lhe soa deveras natural e as motivações de seu personagem são extremamente cabíveis. É um personagem bastante humano, extremamente humano, que se deixa levar por suas emoções, sem pensar racionalmente.

Isso nos leva ao ponto onde percebe-se que basicamente todo o núcleo principal do filme sofre de problemas psíquicos. Esse é um dos motivos do filme ser pesado: quando os atores encarnam bem papéis desse calibre e conseguem transpassar sua emoção, a identificação com o espectador é direta. E quanto mais forte essa ligação, mais emoções vai evocar de quem assiste.

Banderas e Anaya

Banderas e Anaya

Mas não pense que vamos sentir raiva de um inimigo ou amor. É outro tipo de sentimento, algo difícil de se definir. É uma “coisa ruim”, eu não sei explicar direito. Percebi no meio do filme que estava respirando mais forte e meu coração estava ligeiramente batendo mais rápido, e isso causava um aperto enorme. Ao final do filme minha cabeça estava pesada e era difícil eu conseguir somar tudo aquilo e colocar no papel (digo, na tela do computador).

Claro que a trilha sonora ajuda, com uma orquestra tocando músicas melancólicas e tensas nos momentos intensos do filme. Na questão de produção de sonoplastia, não podemos nos queixar. A direção de Almodóvar é precisa e cheia de uma paixão incontestável. É como se cada cena, cada diálogo, quisesse tocar a alma do espectador.

A Pele que Habito não é um filme para qualquer um, porque tem um caráter de thriller e é um filme essencialmente forte. E não adianta virar o rosto, porque não há nada visualmente impressionante. É todo o feeling do filme que nos faz sentir mal. Ensina muitos filmes de terror a criar um horror forte e sólido.

O filme acabou já faz quase uma hora, mas ainda estou pensando sobre ele. E provavelmente pensarei para sempre, pois é um filme que  nos desafia a pensar até onde o ser humano é capaz de ir quando a loucura toma conta. Mas a jogada de mestre de A Pele que Habito é simplesmente dar motivos tão plausíveis para essa loucura que somos obrigados a pensar que até mesmo nós podemos ficar loucos, só depende do por quê.

A Pele que habito 5

Nota final: 5 estrelas (em um total de 5)